Texto Bíblico: Apocalipse 2:2-5

A igreja de Éfeso havia sido plantada por Paulo em uma breve visita à cidade, ficando sob os cuidados de Áquila e Priscila, cooperadores de Paulo, e depois por Apolo, a qual a bíblia destaca como um pregador eloquente. Paulo retorna pra Éfeso, onde permanece por três anos, e ao se despedir alerta os presbíteros à protegerem a igreja quanto aos falsos pastores: “Ninguém vos engane com palavras vãs.” Efésios 5.6

Na revelação de João (Apocalipse) vemos que a igreja de Éfeso atrai a aprovação de Jesus, por guardarem aquilo que Paulo havia ensinado e advertido a eles. Não tolerando os ensinamentos dos falsos pastores, recusando-se a participar das celebrações pagãs (em Éfeso havia o templo da deusa Ártemis), não se entregando à imoralidade sexual e perseverando na palavra de Deus. Porém, Jesus encontrou algo que não o agradou, a igreja de Éfeso havia perdido o primeiro amor.

 O que é esse primeiro amor?

Esse primeiro amor fala de paixão, talvez isso lhe cause estranheza, pois muito se associa paixão ao pecado, aos desejos carnais e sexuais. Mas é algo muito além disso, a paixão é a primeira fase do amor.  É um sentimento intenso e profundo, de grande interesse ou atração por alguém, de entusiasmo ao falar sobre quem é apaixonado.

Ninguém começa um relacionamento amando alguém de cara. Primeiro nos apaixonamos pelo que vimos e ao conhecer e conviver com esse alguém, esse sentimento de paixão vai amadurecendo e se transformando em amor.

É claro que um relacionamento não se sustenta somente com a paixão, ele precisa ter como base o amor (I Coríntios 13). O amor é como o arroz e feijão do dia a dia, que mantém nosso corpo saudável e funcionando corretamente, mas a paixão é aquele Mc Donalds ou aquele bolo de chocolate que você come de vez em quando.

Vemos tantos casamentos por aí se acabando, mesmo existindo amor, mas a paixão se foi, está somente nas lembranças. São relacionamentos frios, sem graça, sem vida. Não tem mais aquele brilho no olhar ao falar do outro, não tem mais momentos de descontração, de sentar e conversar horas a fio.

Da mesma forma, a paixão precisa estar presente no nosso relacionamento com Cristo. A igreja de Éfeso já não era mais apaixonada por Jesus, ela havia perdido essa “chama” do primeiro amor. Sua preocupação em seguir os mandamentos não foi ignorada por Jesus, mas o relacionamento que Ele deseja ter com aquela igreja não era só de obediência a regras, Ele deseja um relacionamento de noivo e noiva.

 Ausência de paixão

É muito fácil reconhecer um novo convertido, você vê aquele sentimento profundo de admiração por Jesus exalar em cada gesto, em cada palavra, aquele entusiasmo ao falar com Jesus e sobre Jesus, aquela fome por ler a bíblia e conhecer mais sobre Jesus e seus mistérios, aquele desejo de orar, de sentir a presença de Deus.

Mas, assim como no casamento, nossa vida cristã também precisa de paixão pra viver. A paixão não anula ou substitui o amor, mas o alimenta para mantê-lo sempre aceso.

Quando perdemos a paixão por Cristo nos tornamos religiosos. Religiosidade nada mais é que ausência de paixão. Jesus não criticava o zelo ou o conhecimento dos fariseus, mas o fato de seguirem rigorosamente às escrituras, mas sem paixão. Tanto paixão por conhecer a Cristo, como paixão pelas pessoas.

Talvez eu e você sejamos como os fariseus, como os Éfesos, fazemos tudo corretamente, não nos deixamos levar pelos desejos carnais, não nos misturamos com o pecado, somos fiéis na igreja, conhecemos a palavra, mas deixamos a paixão por Cristo ir embora em algum momento.

Quer conhecer o Pai? Conheça o Filho.

O grande desejo do coração de Deus é que sejamos apaixonados por Ele, como um dia talvez já fomos. Como deve alegrar o Seu coração ver o brilho nos nossos olhos ao falar Dele e com Ele, nosso entusiasmo ao ler Sua palavra.

Jesus é o ponto de encontro entre Deus e o homem, o pecado de Adão separou a criatura do seu Criado, mas o sacrifício de Jesus restaurou esse acesso ao Pai. Karl Rahner disse: “Jesus é a face humana de Deus”, ou seja, o Deus que ninguém é capaz de ver, se fez conhecido em Jesus. É Nele que encontramos nossa essência. Ele é o caminho que nos leva ao conhecimento do Pai (João 14:6).

“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação.” Colossenses 1:15

Se queremos conhecer o Pai, precisamos nos achegar primeiro até o Filho. Toda a Bíblia ponta para Jesus, Ele é cumprimento das profecias do Velho Testamento, Ele é o verbo que se fez carne.

No livro “O impostor que vive em mim”, Brennan Manning diz: “O milagre mais importe do evangelho não é a ressurreição de Lázaro, a multiplicação dos pães ou todas as histórias dramáticas de cura juntas. O milagre do evangelho é Cristo, ressurreto e glorificado, que neste exato momento segue nosso rastro, nos persegue, habita em nós e se oferece como companhia para a jornada!”

 Um Jesus fascinante

A bíblia não traz grandes detalhes sobre a vida de Jesus aqui na terra, fala sobre o seu nascimento, sobre a fuga de seus pais para o Egito, quando Herodes manda matar os recém-nascidos, depois fala de Jesus aos 12 anos no templo discutindo com os fariseus sobre as escrituras. Depois pula para os seus 30 anos, onde é batizado por João Batista e inicia seu ministério, que foi curto, se encerrando aos 33 anos.

A bíblia relata os milagres de Jesus, mas pouco se fala sobre quem Ele é, fala somente que Ele era manso e humilde coração. Para nos mostrar que a verdadeira face de Cristo é revelada na intimidade, no secreto com Ele, para os apaixonados.

Jamais existiu alguém tão extraordinário, tão fascinante e apaixonante como Jesus: … porque todo o povo estava “fascinado” pelas suas palavras. Lucas 19:47-48b

Os discípulos no caminho de Emaús estavam caminhando com Jesus, mas não perceberam a Sua presença, mas lá no fundo algo ardia em seus corações: E disseram um para o outro: Porventura não “ardia em nós o nosso coração” quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras? Lucas 24:32

Quantas pessoas que são fãs de algum artista e sabem tudo da vida dele, compram e leem biografias enormes, o seguem para onde eles vão, não medem esforços para estarem perto do seu ídolo, que nem ao menos sabem quem são.

Quando lemos sobre o povo escolher Barrabás para ser solto no lugar Jesus, logo nos voltamos contra a escolha do povo. Mas não foi o povo que escolheu libertar Barrabás, foi Jesus que escolheu ir no lugar dele.

Nós somos Barrabás, o prisioneiro que saiu livre naquele dia. E o que fazemos com esse sacrifício de Jesus? Passamos dias sem se perguntar quem Ele é, sem querer ir mais fundo e se contentando com tão pouco que a gente sabe.

Quanto mais o conhecemos, mais nos apaixonamos.

Um relacionamento alicerçado no amor e regado com a paixão nos levará a um nível maior de intimidade. Quanto mais eu o conheço, mais eu me apaixono por Ele. E quanto mais apaixonado eu sou, mas eu quero conhece-lo.

Costumamos tanto exortar a igreja quanto à importância de orar, de ler a bíblia, de estar na casa de Deus. Mas isso não trará resultado, nosso papel não é convencê-lo de que deve orar, pois mesmo que orar, será por obrigação, Deus não quer assim.

Nosso papel como igreja deve ser despertar essa paixão por Cristo em seu coração. Porque quando essa chama estiver acessa, quando a paixão por Jesus estiver latente no seu peito, haverá brilho nos seus olhos ao falar Dele, você não conseguirá passar um dia sequem sem falar com Ele, sem ler sua palavra.

Contemplando a Sua face

Precisamos aprender a contemplar a presença de Jesus. Contemplar é fixar o olhar com encantamento, com admiração, observar atentamente, analisar.

Enquanto Pedro fixou os olhos em Jesus Ele andou sobre as águas, quando ele olhou para água começou a afundar. Sabe porque você não tem vencido seus problemas? Porque seu olhar está neles, não em Jesus. Até sua oração é fixada em pedir pela resolução do seu problema, e não em apenas desfrutar da presença de Deus.

Não vemos pessoas pedindo oração e conselhos sobre para ser mais apaixonado por Deus, para conhecer mais a Deus. Mas para que Deus opere uma cura, transforme um casamento, abra uma porta de emprego.

A contemplação, definida como olhar para Jesus enquanto o amamos, leva não somente à intimidade, mas também à transformação da pessoa que o contempla.

Conclusão:

Não há propósito maior em nossas vidas do que conhecer Jesus e se apaixonar cada vez mais por Ele. Não há nada tão digno de nosso sacrifício pessoal, nada que possamos obter que seja tão necessário, quanto ter a revelação viva de Jesus em nosso interior. Devemos viver todos os dias em função desse sacrifício, o resto tem que ser segundo plano. Não deixe seus dias passarem em branco, sem conhecer Jesus.

O alvo maior das nossas vidas deveria ser conhecer Jesus e fazê-lo conhecido.

 

Deus abençoe, Pra. Nívia Augusto